O desenvolvimento do seu filho

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Toda criança tem “a quem puxar”. Mas a herança dos pais vai além da genética: tanto o ambiente quanto o estilo de vida que oferecem ao filho são capazes de modular o funcionamento dos genes dele, prevenindo ou acelerando o surgimento de diversas doenças, desde a existência intrauterina. E por que os primeiros mil dias (cerca de 270 da gravidez + 720 até completar 2 anos de idade) são primordiais? Porque é nessa fase que ocorre uma espécie de programação metabólica do organismo, estabelecendo um padrão de funcionamento, explica a pediatra Neuma Kormann, do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

É importante considerar, porém, que cada criança tem seu ritmo de desenvolvimento e que ansiedade e comparações não vão contribuir para acelerá-lo. A fim de tranquilizar pais aflitos, os especialistas lançam mão de gráficos fundamentados em amostras populacionais para definir um parâmetro de normalidade e verificar se os marcos de amadurecimento da criança estão se cumprindo conforme o esperado.

O acompanhamento começa na gravidez. Ao longo dos nove meses, o crescimento fetal é mensurado por meio da altura uterina, da idade gestacional (calculada com base na data da última menstruação) e do peso fetal, que é o principal critério para identificar fetos pequenos, adequados ou grandes para o tempo de gravidez, conforme explica o ginecologista Wagner Hisaba, especialista em medicina fetal da Unifesp. Ele é calculado em percentil, uma escala que varia de 0 a 100. “De modo simplificado, quando o médico relata que o peso estimado está no percentil 60, significa que 60% dos fetos da mesma idade gestacional pesam menos do que ele e que 40% pesam mais”, exemplifica Hisaba. A variação do que é tido como normal é ampla: vai de 10 a 90. Isso quer dizer que um bebê de 2,5 quilos ao nascer pode ser tão saudável quanto um de 3,5 quilos.

Após o nascimento, os pediatras passam a considerar também o percentil da altura para elaborar uma curva de crescimento. No primeiro ano de vida, mede-se, ainda, o perímetro cefálico, ou seja, a circunferência da cabeça do bebê. O cálculo é fundamental para acompanhar a evolução do cérebro, que triplica de volume nessa fase. “Esses métodos de avaliação dizem muito. Só de olhar para um gráfico, algo fora do padrão pode chamar a atenção do pediatra antes que uma eventual alteração comprometa o desenvolvimento”, resume Neuma. Descubra, a seguir, qual o seu papel nessa incrível aventura do crescimento.
O valor da alimentação

Novos estudos demonstram que tanto a privação de nutrientes quanto o excesso de calorias na gravidez podem levar a criança a desenvolver doenças como obesidade, hipertensão arterial e diabetes no futuro. E o primeiro alimento que o bebê vai receber, o leite materno, dá continuidade a essa “simbiose alimentar” entre mãe e filho. Um dos inúmeros benefícios do aleitamento é a proteção contra infecções intestinais, uma vez que ele fornece anticorpos que neutralizam a ação de bactérias nocivas no intestino, conforme exemplifica o pediatra Luciano Santiago, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Um estudo realizado pelo Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), da Unicamp (SP), com 213 prematuros de muito baixo peso (com menos de 1,5 kg), mostrou que a amamentação também reduz o tempo de internação significativamente. Exatamente como aconteceu com Isadora, de 3 meses, filha da empresária Ana Paula Mançano Reveline, 31 anos, do Paraná. Por causa de um rompimento prematuro da bolsa, a menina nasceu na 34ª semana de gestação, com 1,255 kg e 38 centímetros. “Só pude amamentá-la por volta do 20º dia após o parto. Antes disso, ela era alimentada por uma sonda”, recorda a mãe. A expectativa da família era que a bebê ficasse até dois meses internada, mas ela deixou o hospital duas semanas após o início da amamentação, no 37º dia.

Passado o período de amamentação exclusiva, que deve durar seis meses por recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), começa a introdução de alimentos sólidos. Um apanhado de 11 pesquisas, publicado recentemente pela Academia Americana de Pediatria, reforça que, quanto antes os bons hábitos alimentares forem incorporados à rotina da criança, melhor. Tudo porque o número de células de gordura de uma pessoa é determinado pela genética, mas pode ser multiplicado em algumas fases da vida, como na primeira infância e na menopausa, por exemplo. “A hiperalimentação no primeiro ano é uma das causas desse aumento”, alerta a endocrinologista pediátrica Lea Diamant, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). O problema é que, ao chegar à adolescência, aquela criança rechonchuda terá dificuldade para emagrecer, exatamente por causa das sobras celulares. Pior do que isso: de acordo com Lea, a obesidade infantil está associada à puberdade precoce que, por sua vez, pode afetar a estatura final da criança, ao desacelerar o crescimento. O melhor, portanto, é apostar na prevenção, cuidando não só da quantidade como da qualidade dos alimentos que seu filho ingere.
Vacinas e exercícios em dia

Uma das razões pelas quais os índices de mortalidade infantil diminuem a cada ano no país (totalizando 40% de queda na última década, de acordo com o Ministério da Saúde) é, sem dúvida, o advento das vacinas. Para a pediatra Flávia Bravo, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), “as quebras na curva de crescimento, não raro, são provocadas por doenças. Assim, se a criança adoecer com frequência, terá o desenvolvimento prejudicado”, afirma.

Ela reforça que os bebês fazem parte de um grupo ainda mais suscetível a internações e mortes causadas por determinadas enfermidades, uma vez que o sistema imunológico deles é imaturo. E, considerando-se que as crianças entram cada vez mais cedo na escola, onde a probabilidade de contaminação é maior, o ideal é manter a carteira de vacinação sempre atualizada.

Se, por um lado, o ingresso precoce na educação infantil tem o inconveniente de expor seu filho a mais vírus e bactérias, por outro é uma alternativa para a criança se socializar e se manter ativa. “O uso frequente da tecnologia, a falta de segurança nas ruas e até o excesso de zelo das famílias criam barreiras que a impedem de se exercitar como deveriam”, afirma o mestre em ciências do movimento Cláudio Marcelo Tkac, da PUC-PR.

O problema é que o corpo precisa de movimento para se manter ativo. Os ossos, por exemplo, são estruturas que se renovam continuamente e requerem estimulação regular – isto é, atividade física. O mesmo ocorre com a musculatura: o que não é usado com frequência pode se deteriorar. No que se refere ao crescimento infantil, especificamente, os exercícios físicos promovem ganho de massa óssea e muscular. Sem falar nos benefícios mais óbvios, como a prevenção da obesidade e de seus males associados, entre eles, a hipertensão e o diabete.

A boa notícia é que criança adora se mexer o tempo inteiro. Aos pais, cabe proporcionar um ambiente seguro, com oportunidade de brincar também ao ar livre. Isso porque a vitamina D, cuja produção é estimulada pelo sol, também está ligada ao fortalecimento ósseo.

E quem brinca o dia inteiro precisa de uma boa noite de sono para descansar e… crescer. Isso porque o hormônio do crescimento (GH) é secretado com maior intesidade à noite. “Não é só a quantidade de tempo que a criança dorme que importa, mas também o horário em que ela vai para cama”, ressalta o doutor em neurociência e comportamento Fernando Louzada, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). É que a produção de melatonina, hormônio que induz o relaxamento, é regulada pela luz do dia.
Será que está tudo bem?

Para tirar a prova, certamente a melhor alternativa não é comparar o tamanho do seu bebê (ou da sua barriga, no caso das grávidas) com o da vizinha. “Tenha em mente que o fundamental é a criança manter um bom ritmo de crescimento”, ensina Ana Teresa Londres, especialista em nutrologia pediátrica. É por isso que as visitas ao pediatra devem ser constantes nos primeiros mil dias de vida.

A recomendação da SBP é de que a primeira consulta aconteça ainda nos primeiros cinco dias do recém-nascido. Nesse período, serão realizados os exames imprescindíveis, como o do pezinho, que detecta síndromes genéticas, e o do olhinho, que flagra alterações visuais. Depois, o médico tem de avaliar o bebê novamente aos 15 e aos 30 dias. A partir daí, as consultas devem ser mensais, até o sexto mês, e bimestrais, até o primeiro aniversário. De 1 a 2 anos, o intervalo ideal passa a ser de três meses. Tomando essas precauções, você assegura ao seu filho o melhor desenvolvimento que ele pode ter, além de se cercar de cuidados para que eventuais problemas sejam detectados precocemente, quando há mais chances de serem revertidos. Vale o investimento!

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Equipe ABC Design

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