A tradutora Cleci Leão, 40, mãe dos gêmeos Lucca e Bianca, 15, odiava que o ritmo de desenvolvimento dos filhos fosse comparado, mas era inevitável. Lucca deu os primeiros passos quando completou 1 ano, enquanto Bianca ainda se contentava em apenas engatinhar. “Apesar de muito forte, minha filha não conseguia se equilibrar”, lembra a mãe. A bisavó dos gêmeos fez até uma simpatia para a menina perder o medo. Coincidência ou não, Bianca andou no dia seguinte. “Eu não estava com pressa de ver os primeiros passinhos dela. Mas o fim das comparações me deixou bem mais feliz do que a eficácia da simpatia, propriamente”, brinca.
A fisioterapeuta Raquel Saccani, pós-doutoranda em Ciências do Movimento Humano na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, participou de um grupo de estudos que investigou se havia diferenças de desenvolvimento motor entre os gêneros. Foram analisadas 90 crianças de 0 a 18 meses – 45 meninas e 45 meninos. A conclusão é que a evolução se dá de forma semelhante. “Porém, com o avançar da idade, nota-se uma tendência de que eles sejam mais hábeis motoramente do que elas”, afirma. Engana-se quem pensa que essa diferença seja genética. Segundo Saccani, a resposta é social: está em separar as atividades entre ‘de menino’ e ‘de menina’. “Acabamos oferecendo vivências motoras mais amplas, vigorosas e expansivas para eles e práticas mais restritas e sedentárias para elas.”
A estudante universitária Rosângela Alffa Izac, 30, ficou preocupada quando o filho Aleph, na época com pouco mais de 1 ano, parou de andar alguns dias depois de dar os primeiros passos. E logo percebeu que a culpa poderia ser do calçado. “O clima esfriou e eu calcei um par de tênis nele”, lembra. Então, ela fez um teste: recolocou no filho as sandálias com as quais tinha dado os primeiros passos. Pronto, ele voltou a andar. Por isso, é importante ficar atento. “Qualquer mudança ambiental como terrenos irregulares, roupas apertadas, calçado pesado ou instável podem interferir na capacidade de locomoção das crianças que estão aprendendo a andar”, orienta Raquel Saccani.